des(APEGO)


Rafaela, quando criança, era chamada de “Fafa”, ela adorava. Era Fafa pra lá, Fafa pra cá e, de repente, seus amigos cresceram, outros foram embora, e seu apelido passou a ser “Rafa”. Rafaela achava estranho, ela gostava de Fafa. 

Sempre gostou de novela, aí se acostumava com um personagem, ria muito com a parte da comédia e ficava lá sofrendo junto ao casal da trama. Cada novela que chegava ao fim, Rafaela chorava, queria continuar grudada em seus personagens preferidos.

Quando assistia a um filme, onde existia um “triêngulo amoroso”, Rafaela sempre escolhia um pra torcer. E ela tinha seus argumentos, do porquê a menina devia ficar com aquele cara, mas acabava que ela escolhia o outro. Rafaela sofria como se a decisão fosse dela e que tinha tomado a errada, depois sempre lembrava: “ela devia ter escolhido o outro, ele era tão mais fofo”. 

Ela tentava não assistir a Séries, porque sabia que ao final de que cada temporada iria ficar arrasada, mas, às vezes, acabava pegando alguma pra assistir. Rafaela escolheu uma pra amar, a série tinha 10 temporadas. Rafaela grudou naqueles personagens como se fossem amigos próximos. Quando acabou de fato, ela não queria acreditar, ficava triste pelos cantos, as pessoas riam e diziam que era só uma Série, mas definitivamente não era só uma Série (pelo menos não para Rafaela). E, então, ela continuou assistindo, repetidamente.

Quando seu primo arrumou uma namorada, Rafaela, de início, nem queria se aproximar, sabia que seu primo iria arrumar outra rapidinho, mas depois ela foi ficando na família e Rafaela se aproximando e pronto seu primo, por motivo que não saberia dizer, largou a menina e ela sumiu. Sim, sumiu e Rafaela sempre lembrava dela e tentava manter contato.

Rafaela estudou oito anos em uma escola, tinha amigos de verdade ali e, quando seus pais decidiram que iria pra outra escola, ela esperneou, gritou, disse que não, mas acabou tendo que ir. Pra tentar acostumar com a ideia, fixou na mente que aqueles amigos iriam ficar pra sempre – mas a gente sabe que não é assim. Na outra escola, ela começou a ter outros amigos e, antes mesmo de perdê-los, já sofria com a ideia. Além de amigos, Rafaela se apega a professores. Espera por cada aula, fala sempre deles e tenta puxar sempre algum assunto, mas, como tudo, eles vão embora e Rafaela fica daquele jeito que vocês já “conhecem”. 

Se eu te falar que Rafaela se apega até ao achocolatado que toma todos os dias e quando seu pai muda, ou melhor, tenta mudar a marca, ela faz um escândalo, você não vai acreditar. Eu sei, foi difícil pra eu acreditar também. Ela não quer mudar seus móveis de lugar, tem uma jaqueta que não larga por nada, não se imagina sem seu gatinho de estimação que tem desde criança, não quer mudar seu número de celular por nada e só dorme com seu travesseiro de quando era bebê.

Quando gostou de alguém pela primeira vez, não correu atrás, tinha medo de se apegar demais, só não sabia que já estava apegada. E, quando gostou de alguém pela segunda vez, fez totalmente diferente de antes, se doava inteira por aquilo, fazia de tudo e, quando percebeu, dependia daquele relacionamento ou da presença dele. Tanto do primeiro (que foi mais fraco), quanto do segundo (que foi amor de verdade), Rafaela nunca esquece, do nome, do perfume e do telefone (ela decorou).

Se tem alguma coisa que Rafaela não se apega é ao, próprio e nunca saído de sua boca, desapego. Esse Rafaela nem se lembra que existe, não sabe utilizá-lo e muito menos pensa em descobri-lo.

Aline Miranda é nossa "mini" poeta, que já nos mostra tanta grandeza, ainda que tão nova. Aprende rápido com a vida. É irmã da Juane e é a nossa convidada do mês.