A fantástica floresta encantada

foto: Juane Vaillant

Eu entro no carro. A estrada é difícil como sempre. Esburacada, lamacenta, cheia de pedras no caminho. A diferença é que eu dirijo. Eu sempre era levada pra lá; Acordava com um pulo da cama e já começava a colocar todas as minhas roupas, livros e brinquedos. Era inútil, eu não usava quase nada. Lá tinha tudo.

Esqueci de mencionar, era uma floresta encantada.

Conheci quando eu era bem pequena, nem me lembro quando. Mas estava disfarçada. Disseram que era o sítio do meu tio, mas não era. Quando você entrava na porteira, já percebia. De um lado e do outro, uma planta mágica. Ela dormia um sono profundo, toda vez que você encostava. E tinha essa flor amarela, que era comida, era chá e deixava seu cabelo loiro. E, é claro, tinham as mini-fadas. Elas voavam baixo, perto das pessoas, cantando juntas e encostando onde tivesse água. Pegá-las era impossível. Elas eram rápidas e treinadas.

Certa vez eu fui uma princesa. Fui a dona da floresta. Não eu sozinha, claro. Eu e minhas primas governávamos juntas. Éramos a  família escolhida. Aquela que tinha cuidado para que ninguém destruísse a floresta. Por nossa causa, ela estava a salvo. Tínhamos roupas brilhosas e de majestade. Eram feitas com ouro, pedras preciosas e veludo. Mas só quem fazia parte do reino podia ver. Para quem não tinha bebido da água sagrada, eram apenas uma armação de arame e mangueira, coberta por um cobertor rasgado.

Tinha também um grande lago mágico. Uma vez que você entrava nele, não saía mais. E se saísse para comer, tinha que esperar duas horas para entrar. Ordem das sereias guerreiras, aquelas danadas! Tinham regra e horário para tudo. Dentro da águas não tinha majestade, elas mandavam, sim senhora. E nós, reles princesas mortais, o que poderíamos fazer?

Lá eu também fui pobre, muito pobre. O reino entrou em declínio e tivemos que morar em uma casa na árvore, para nos proteger dos bichos ferozes. Passamos dias dividindo nossa água, umas mangas e bananas. Quando saímos de lá e as trevas em forma de chuva acabaram, descobrimos que do lado de fora só tinha se passado uma hora, veja só! Eu disse, essa floresta é encantada.

Fiquei anos sem ir lá. Me disseram que isso ia acontecer. Que uma vez que você passa um tempo sem ir, o mundo real te puxa para ele de propósito. De propósito! Coisas da magia. Lembrei da floresta quando vi uma foto. Eu e minhas duas primas, em cima de uma arvore, com nosso vestidos de cortinado. Pobres máquinas, não conseguiam captar nada.

Cheguei. 
Abri a porteira e fui entrando. Cautelosamente. Entrei no carro novamente. Quando estacionei perto da casa, algo foi estranho. O caminho era curto demais. A árvore parecia tão mais baixa e desfolhada. Desci do carro novamente. O lago não era bem um lago. Era uma piscina e até um pouco pequena. O palácio era uma pedra, que também era um pouco menor. Por um tempo murchei. Desanimei.

Olhei para o lado, ou melhor, para baixo. Meus filhos se entreolhavam, com olhos brilhando e saltitando. De um  lado para o outro, eles apontavam. Corriam e tocavam em todas as coisas. Uma lágrima escorreu dos meus olhos. Meu Deus, eles podiam ver as fadas!

A floresta que era sítio, afinal, não era encantada. Era muito mais do que isso. Eu senti o cheiro, eu provei o gosto. Era a infância. Que se erguia em forma de árvore e, diante dos meus olhos, estava representada.