Clara e o dia das profissões





 - Advogado!
 - Médica!
 - Empresária!
 - Engenheiro!

As mãos se agitavam no ar aflitas. Todas as crianças queriam falar sobre sua profissão dos sonhos. Os seus motivos e como iam conseguir. Quase todas as pessoas vão mudar de ideia. Onze anos não é bem uma idade propícia para escolher o que fazer para o resto da vida. Mas Clara sabia. Clara tinha certeza.

Ela lembrava, como se fosse hoje, de um fato ocorrido quando ela tinha sete anos. O.k, não é muito tempo, mas para uma criança era. Clara estava na casa do seu tio e seu priminho Pedro,  de três anos estava brincando com ela. A brincadeira consistia em colocar objetos com formas geométricas dentro de uma caixa com as formas certas. Simples. Mas não para uma criança de três anos. Seu tio, observando de longe a brincadeira, disse: “Clara, ensina o Pedro como é.”

Clara,sem saber porque, se iluminou com a possibilidade. Com calma, ela pegou um objeto redondo ( o que parecia mais fácil), mostrou as bordas para o primo, e logo depois pediu para ele apontar, na caixinha, qual se parecia com aquele. A criança pensou, pensou. Apontou para um buraco oval na caixinha. Clara arqueou as sobrancelhas e não disse sim, nem não. Pedro, parecendo entender, pegou o objeto redondo e colocou no lugar certo. Quando conseguiu,  ele deu um sorriso e seus olhos se iluminaram. Mas não tanto quanto os de Clara, que achou incrível ter conseguido ensinar isso para ele.

A partir dai, virou quase um vício. Sempre que via uma criança mais nova, ou alguém da sua sala com dificuldade, ela se aproximava e tentada ajudar. Para ela, ensinar significa passar conhecimento. Mostrar pra uma pessoa, que ela pode fazer isso também. Clara tinha a ideia fixa de que todo mundo pode passar alguma coisa. Só que umas pessoas nasciam com essa vontade insaciável de acumular conhecimento e passar adiante.

Quando a professora perguntou a profissão, ela já saia exatamente o que responder. Mas a euforia na sala era tanta,que ela preferia observar os colegas. Conforme as pessoas iam falando, clara observou que ninguém tinha dito professor ou professora. Mas era de se esperar. O que se ouvia sobre a profissão não era bom. Não da dinheiro. Ninguém reconhece. Trabalha muito. Não descansa.

Um dos mais empolgados, queria ser engenheiro civil. “Igual meu pai. Quero construir casa, prédios, ruas, transformar nossa cidade num lugar moderno, tecnológico” Todo mundo parecia bem empolgado com a profissão. Alguns até começaram a comentar como devia ser legal. Mas Clara não titubeou nem por um segundo.

Ao final da aula, Clara esperou todos saírem e se aproximou da professora, que arrumava os trabalhos na mesa.
- Professora, eu queria falar que quero muito, muito mais do que meu amigo.
- Como assim Clara?
- Eu não quero construir casas e deixar a cidade mais bonita. Eu quero construir pessoas, e deixar o mundo melhor. Igual a senhora. A professora sorriu.
- Você vai ser uma ótima professora Clara.
Os olhos de Clara se iluminaram diante da aprovação da ídola. Mas não tanto quanto os da professora, que tinha certeza que estava realizando o sonho de infância.
Mudando a vida de alguém.