Minha vida é um filme de Sophia Coppola.

Arte por: Alice X. Zhang

Ela disse.

Estava sentada no granito frio e a luz do globo piscava ao longe a transformando em azul, verde, vermelho, amarelo e azul outra vez. A garrafa na sua mão estava quase vazia. Ele sentou-se ao lado dela e deu um sorriso fraco. A longneck dele estava quente, mas ele não tinha percebido.

- Que? Ele perguntou, percebendo que ela não estava mais prestando atenção nele. Era como se ela estivesse a quilômetros de distância.
 - Sim. Isso mesmo. Eu gostaria que minha vida fosse como um filme do Tarantino, mas é um filme da Sophia Coppola. E acho que foi por isso que eles não deram certo, afinal de contas. 
- Eles quem? Os filmes da Sophia?
- Não. Tarantino e Sophia Coppola. Eles namoraram, sabia? - Ela falou e deu mais uma golada. Eu gostaria de dizer que era um vinho, mas era Selvagem. - Eu acho que eu planejei a minha vida para ser um filme de Tarantino. É assim que eu me mostro para as pessoas. Mas eu não sou. Em um filme do Tarantino, as coisas acontecem o tempo todo. A pessoa mata, se muda de pais, cheira pó, dança, se vinga, corta cabeça, arranca olho, morre… E no final das contas, de um jeito ou de outro, tudo se resolve. Com a Senhorita Coppola não… Não tem nada acontecendo. A vida das pessoas esta normal,tem poucos problemas, mas elas de alguma forma enxergam uma bad enorme e sem resolução. Mas, o que elas fazem sobre isso? Nada! Elas passam o filme todo lidando com outras coisas e no final elas ainda tem o mesmo problema.

Ela jogou a cabeça para trás. A pista estava quase tão vazia quanto a garrafa. Ela se perguntava porque não tinha ido embora quando teve chance. Recusou uma carona para isso? Ficar jogada no fim de festa, fazendo esse cosplay de si mesma com quinze anos? Isso parecia mais deprimente que Lars Von Trier. As pessoas estariam se sentindo mal dentro do cinema. Algumas iriam embora. Outras diriam “É, a fotografia é ótima. A arte maravilhosa.” Mas na verdade elas estariam pensando: “Que bosta de roteiro! Quem quer ver uma vida chata dessas?”E ela se odiou por pensar em um diretor tão blasé. 

-Entendo. 
- Que fala péssima! Ela exclamou virando o resto da garrafa. Se isso fosse um filme e fosse um filme bom, você diria que é Melhor ser Sophia do que Wood Allen, onde ele tem uma vida ótima ai cava uma treta e depois fica na bad por uma coisa que ele mesmo buscou. Ou que por exemplo, não é um filme atual do Tim Burton, que quando você tira o cenário e a maquiagem gótica, não tem absolutamente nada. Mas não, você disse “Entendo”. Se levantou bufando. Ele continuou sentado. Ela olhou em volta. O lugar tinha muitas memórias e ela não se orgulhava da maioria. Mas o fantasma da nostalgia, que nos pega quando estamos frágeis, tinha a alcançado.

- Mas se isso fosse um filme massa mesmo, você teria chegado em mim, como a maioria dos caras fazem depois de chamarem uma menina várias vezes para sair. Ou eu teria percebido que você não queria nada comigo e teria ido embora com a minha carona. Na verdade, eu não teria gastado meu pobre salário nessa bosta de festa pra começo de conversa. - Ela parou. Ele estava imóvel. Ou talvez só muito chapado. - Droga!. Eu queria tanto ser a roteirista da porra da minha vida...