Fortaleza


Juane Vaillant

Conheci essa garota e meu sentimento em relação a ela foi complexo. Ao mesmo tempo em que a achei incrível, ela era tão segura, tão madura e ao mesmo tempo tão descontraída, que eu não pude acreditar que ela não estivesse de certa forma atuando. Aquela ferpa incomoda chamada inveja me bateu.

Conversei com ela por horas e ela parecia a sabedoria em pessoa. Como se ela tivesse descoberto aquele pulo do gato, o segredinho atrás da porta, para chegar a um entendimento apurado das coisas. E como ela sabia sobre a arte de ser mulher! Como entendia nosso corpo, nossas emoções, nossos desejos.

Queria rir de mim mesma. Eu que tenho tantas neuras, tantos percalços, tantas coisas para lidar dentro de mim mesma.   Eu que as vezes fujo, as vezes me escondo em outras de mim, as vezes viro papel, as vezes viro tinta, tenho o mau costume de achar que as pessoas são também, camaleões. Dançando conforme uma música que você não escolheu.  Será que ela também era?

Voltei pra casa pensando nos processos dessa mulher. Em tudo que aconteceu com ela, para que um dia ela pudesse ter essa consciência. Demorou muito tempo até eu vê-la de novo. Ela tinha a mesma graça, o mesmo jeito suave de falar e a mesma certeza. E eu ali, ainda sendo eu mesma, com passos pequenos, me equilibrando.

Mas de uma outra pra outra, ela mudou.Observei que um homem tinha chegado perto de nós. Eu não conhecia direito, e o que eu sabia não era bom. Ela estava, tal como flor de plástico, como couro falso, sendo uma cópia de si mesma. Tateando o espaço e tentando ser ainda mais agradável. Não sei se ele percebeu.

Eu lembrei das muitas vezes em que eu tinha, miseravelmente tentando demonstrar afeto por alguém. Tentar fazer a pessoa entender, através da linguagem universal dos sinais corporais, o que eu queria dizer.

Meus sentimentos foram ainda mais dúbios com relação a ela. Por um lado, me entristecia vê-la perdendo um pouco seu brilho do lado de alguém. Parecia um crime. Mas, no fundo, lá no fundo, me deu uma certa esperança ver que eu tinha algo em comum com aquela fortaleza, aquele acontecimento. Um ponto fraco, mesmo que pequeno, confundindo tudo, e nos tornando humanas.