Benditos bebês!


Juane Vaillant

Sento na calçada e coloco meus pés na grama. A sensação de poder fazer isso logo de manhã é acolhedora. Na minha frente estão três crianças. Duas delas são tão pequenas que mal conseguem segurar os brinquedos que jogam de um lado para o outro. A terceira criança é um pouco maior. Ela parece achar graça da brincadeira dos outros dois. Mas não de uma forma debochada. Se diverte.

As duas crianças menores brincam de algo que consiste em jogar a bola de um lado para o outro. Quando um cai, o outro espera o amigo levantar e quando ele levanta os dois pulam e fazem "Eeee". Algum adulto deve ter ensinado, para que eles não chorem ao cair. Mas fica tão, tão mais genuíno quando as crianças fazem. Dizem, sem dizer nada. Dizem: Estou com você.

Em alguns momentos, alguma criança quer segurar a bola por mais tempo. O outro se zanga. Cruza os braços, sai de perto ou tenta tomar a bola. O conflito se arma por segundos. E também em segundo eles fazem as pazes. Jogando a bola para o alto, fazendo "Eeee" ou simplesmente dando a bola para o amigo que está triste. E por segundos, também segundos, eu acho a vida tão simples. Eu acho meus problemas tão simples de resolver. A bola não é minha afinal. Na vida dos adultos, ninguém é realmente o dono da bola.

Volto a realidade. A terceira criança, a mais velha, pega umas pipas. Quer fazer uma rabiola. Os pequenos não sabem fazer isso. Não fazem nem ideia do que seja. Eles usam a pipa como um avião de papel. Aprendem o significado de ressignificar. E me jogam esse conceito na cara também. Bem quando eu achava que não ia mais pensar nada.

Penso. Penso novamente. Você já viu como as pessoas olham para os bebês? Na rua, no ônibus, nas lojas? Elas estão interessadas. Elas estão animadas. É como se, só assim, olhando para uma pessoinha tão pequena, é que se deem conta do milagre da vida. Da essência das pessoas.

As três crianças continuam brincando. Pegando formigas na mão e as admirando. Como pode uma coisa tão pequena como essa ter vida? “Será que ela pensa?” Pergunta a criança mais velha para mim”. Eu não faço que sim nem que não. “O que você acha?” Pergunto depois de um tempo. “Acho que tudo pensa.” Ele responde, passando a formiga de uma mão para a outra.

Volto para o meu devaneio. A criança para o dela. E a formiga, provavelmente também.