Você se importa se eu te levar comigo hoje? Foi o que pensei em perguntar. Mas pensei só depois, quando já deitava a cabeça no travesseiro, imaginando as coisas que deixei de dizer. Foi aí que pensei em você e nesse seu sorriso torto. Veio também seu olhar arisco que foge de mim sempre que o caço. Caço, feito bicho mesmo. É que se eu pudesse eu te colaria em mim, mas só por um segundo. Depois perguntaria o que você gosta de fazer da vida, porque nem isso eu sei.

De que cor é o seu olho? Você escapa sempre que estou quase te alcançado. Talvez tenha alguma coisa do lado daí também que eu ainda não consegui ler. Na próxima vez, pego meu olho e boto na frente do seu. Na maior cara de pau, que é pra ver se você me vê, me enxerga.

Posso ser essa coisa desengonçada, mas me toca também o olhar não correspondido. Ora, é só um olhar, afinal. Não é como se eu fosse a própria medusa, é? Se te disseram, esquece. Quem me dera esse poder todo.

Da próxima vez, vou colocar meu cheiro bem no meio no seu nariz. Só pra ver se assim você me percebe, me nota. Ah, o que é que tenho que só um "oi" assim, acanhado, desiludido, afastado, tenho merecido? Às vezes, meu bem, o olhar é mais íntimo do que o próprio beijo, sabia? Sabe, né? Aposto que sabe.

Durante muitos anos ser negro significava que você provavelmente iria ser um escravo e não teria direito algum. Mas teria que cumprir seus “deveres” como, por exemplo, servir ao seu senhor – que era branco e rico. A Lei Áurea determinou a abolição da escravatura no dia 13 de maio de 1888 assinada pela Princesa Isabel. O tempo passou e em alguns vilarejos, onde não existe fiscalização, ainda tem escravidão.

Estamos no século XXI e muitas pessoas dizem que negro não é gente entre outras coisas. Ruim mesmo é quando você escuta “qual é a sua cor?”. A pessoa é negra, porém ela vai falar “ah, não sei. Acho que sou branca, parda” e não diz sua cor. Às vezes, ela não diz porque tem preconceito contra si mesmo, ou porque não explicaram para essa pessoa qual é a sua raça.

A nossa sociedade infelizmente impõe um padrão de beleza às mulheres: alta, magra, olhos claros e branca com cabelos lisos e loiros. Na infância, é bem provável que você nunca ganhe uma boneca negra e sim uma boneca de cor clara. As pessoas vão falar para você “cabelo crespo é ruim”, “alisa esse cabelo de pico”. Ei, não alisa seu cabelo, não! Deixa ele assim do jeito que ele é. Cabelo também diz muito sobre uma pessoa portanto não alise seu cabelo só porque a sociedade quer.

Na realidade, a sociedade quer impor muitas coisas. Não é só sobre sua raça e sobre seu tipo de cabelo, mas eles vão falar se você é gordinha(o) ou se é magrinha(o) e se você se encaixa nesse padrão que a sociedade quer colocar para você. Se você está acima do peso ou abaixo dele cabe a você decidir o que vai fazer, cabe a você decidir se vai deixar o seu cabelo ser livre ou se vai colocar as correntes e deixar o seu cabelo liso. É critério seu. Mesmo que a sociedade queira te dizer o que fazer e como fazer, não necessariamente você tem que aceitar as imposições feitas por ela!

Não tenha medo de ser negro. Essa cor é linda, pena que muitos têm vergonha em dizer que são negros. E lembre-se: ninguém tem o direito de te chamar de macaco por causa da sua cor.

Então, lembre-se que quando você diz que é negro primeiramente você está declarando que aceita ter essa cor e depois declara o seu amor-próprio, afinal, não basta ser negro, é necessário praticar o amor-próprio! Solta esse cabelo sem se importar com a opinião alheia. Talvez a sociedade não saiba o que é belo.

Negro é gente e merece ter o mesmo direito e respeito que um branco possui!
Andressa Jesus tem 17 anos, ama escrever e é uma das alunas do Projeto Elisas 2017 - Oficina Literária Para Meninas.

Quando nova, ouvia essa canção em todo evento escolar. Eles me diziam que esse era o tipo de música que crianças deveriam ouvir. Fazíamos encenações em cima dela e cantarolávamos na hora do intervalo das aulas. Mas a vida nunca perde a ironia e, dez anos depois, cá estou, perguntando a mim mesma o que faria se essa rua fosse minha. Essa mesma, que estão querendo esvaziar.

Pergunto-me nesses termos porque do jeito que dizem, eles do lado de lá, é como se ela não fosse mesmo minha. Ou nossa. Se eu paro de imaginar como seria a rua sendo minha e começo a agir como se ela já fosse, eles vêm, do lado de lá, pra dizer que não pode ser assim.

Daí dizem que tem abaixo-assinado, que tem outra gente que também é dona da rua, que tem que ser assim. Tudo bem... Ocupar a rua nunca deixou de ser uma luta, né? Viver é isso. E aí eu me respondo. Se essa rua fosse minha, não mandaria ladrilhar não, muito menos com pedrinhas de brilhante. Sendo minha, talvez colocasse uma mesa pra vender livros, uma caixa de som pra declamar qualquer poema que fosse - ou reclamar qualquer poema que fosse.

Talvez, sim, deixaria as mesas lá. É só um objeto e, em sua ausência, os boêmios bebem, brigam e falam mal de quem quiserem ali mesmo, em pé. Mas eu as deixaria. É instrumento de trabalho. Não só do garçom, mas de todo aquele que ali se senta. Trabalho de quem se apoia, se escora nela, tentando esquecer um amor doído; ou de quem diz coisas como "vamos lançar uma revista juntos?". E depois lançam. E como você vem aqui na minha cara me dizer que não é cultura isso? Não é trabalho isso? Não é povo?

Pois bem, se essa rua fosse minha, eu mandava deixar do jeito que tá. Com essa gente circulando mesmo, fazendo samba, feira, figa e amor. É que é essa gente, que sou eu também, que faz a rua ser o que é. Sem essa gente não tem rua, não tem feira, muito menos cidade para chamar de sua.