Karolina


Eu queria poder descrevê-la. Não sei, contudo. As limitações que me foram impostas desde o meu nascimento não me permitem usar essa linguagem para fazer com que você entenda como ela é incrível. Não são os cachos sempre tão bem colocados, ainda que numa bagunça leonina. Nem a boca, dois campos de algodão estrategicamente pintados de vermelho quase sempre. Tampouco os olhos, dois cortes de navalha no meio do rosto, milimetricamente desenhados... Dizem mais do que a palavra consegue dizer.

A beleza que ela carrega não tem forma. Aliás, até tem. Corpo violão, bunda, peito, etc e tal. Nunca passa despercebida e, às vezes, infelizmente, os homens extrapolam o limite da admiração. Não é culpa dela, contudo. A gente é que é besta, não sabe se comportar muito bem quando vê uma mulher dessa. Uma deusa, tão potente e tão poderosa.

Mas a beleza dela vai além. Tem uma coisa dentro dela, um espírito, uma luz, uma força, sei lá... Tem essa coisa que sei bem que nasceu com ela. E essa coisa faz com que ela alcance lugares que nunca tinha imaginado alcançar. Essa coisa faz com que ela dê risada como as que ela sabe dar, de fechar os olhos, jogar a cabeça pra trás e fazer todo mundo esquecer que o mundo é um moinho. Ela tem essa poder.

Ela gosta de encher suas taças com vinho, mas não sabe nem como começar a fazer um carbonara pra acompanhar. Não a culpo. O vinho e ela combinam tão bem. É com ele que ela sorri sozinha, pensa em tudo o que já alcançou sozinha. Depois lembra que, só, não fazemos nada. Lembra de quem caminhou e caminha lado a lado. Lembra que carrega consigo as dores e as alegrias de um povo e, por isso mesmo, sabe que o que tem, é ou faz não é só por ela.

Ela caminha devagar, mas os passos são largos. Vê a linha de chegada antes de todos, mas não se importa em ultrapassá-la. Ela quer ver o caminho, notá-lo. Observar o que faz a trajetória ser como é e, se possível, transformá-la. Ela se olha no espelho e agradece pela bênção que os deuses lhe concederam de ser quem é. Depois pede perdão por todas as vezes que esqueceu de amar o presente divino que é seu corpo, sua alma, seu coração.

É porque, no fundo, ela é de carne e osso. Teme que o amanhã seja vazio, teme que o que faz seja em vão e se atrapalha com amores mal fundamentados, mal baseados, mal construídos. Mas não dá nada não. Ela senta no bar com as amigas, dá aquela risada gostosa, se diverte com sua própria teimosia e diz que a vida é assim, é um sopro e a gente tem que aproveitar do jeito que der.