Deep Web



Apesar de necessitar todos os dias das tecnologias, eu assumo, não dou conta. Não dou conta desse bando de atalhos a botões. Não dou conta das janelas que abrem ou fecham do nada e de aplicativos que querem publicar em meu nome.

Então, dia desses meu tio me deu um celular que era dele. Apesar de não ser exatamente novo, é mais novo do que qualquer um que eu já tive. O que significa que coisas bizarras aconteceram toda vez que tentei ouvir música, mandar mensagem ou ir na simples galeria de fotos. E foi lá, lá mesmo. Na galeria. 

Lá estava eu, não eu do tempo presente. Eu de quase cinco anos atrás, sentada na grama da UFES, depois de um rock, com um menino com a cabeça deitada do meu colo. Não olhávamos para a foto e, sim, um para o outro. Parece que foi há milênios atrás. 

Lembro que depois do fim do namoro eu queria me livrar das fotos. Eu queria, mas não podia. Queria, porque ao contrário do breve relacionamento, que sempre foi tranquilo, o fim pareceu um plano de intriga made in Malhação. E não podia, porque mesmo que olhar aquelas caras risonhas nas fotos me fizesse mal, eu não aguento apagar memórias. Acho que tudo na nossa vida é importante. 

Eu quis dar um sumiço nas fotos. Apenas para que eu não me deparasse com elas quando fosse procurar uma foto para perfil ou uma com a galera para fazer uma homenagem Então, eu coloquei um nome aleatório em uma pasta, coloquei dentro de outra pasta escrito “fotos” e dentro de outra escrito “UFES” e dentro de outra que não lembro o nome. Como na vida online perdemos até coisas que queremos muito ver todos os dias, guardar, imprimir… Imagina o que você quer esconder? Fácil ficar de fora, entre uma formatação e outra, ainda mais como você (quando eu digo você sou eu) tem uma habilidade super limitada no mundo online. 

Não sei por que macumba, plano secreto ou ironia do destino essas fotos foram parar no meu celular. Na pasta do meu blog. Do lado de uma foto do filme “Um dia de Fúria”. Mas a real é que aqui estão. 

Quando olhei, foi um choque momentâneo. Não esperava. Mas não foi  ruim. Me lembrou uma época de festas, férias, verão intenso, vento no rosto e praia. Esqueci do fim. Nem me lembro dos detalhes hoje em dia. Sei, sempre soube, que não podia durar. Mas me fez bem, ver que minha boa memória seletiva, me lembrou, de primeira,  de uma tarde lendo blogs de piada no colo dele, e não de qualquer mágoa posterior. 

Como diria o poeta, que seja eterno enquanto dure. E segue a vida.