O labirinto de Ana

Foto: Isabella Mariano
Ela estava reconhecidamente apaixonada. Tinha dificuldades em assumir isso, então assumia qualquer coisa similar. "É um sentimento especial, diferente, mas não paixão". Se parasse para pensar um pouco nesse sentimento, logo admitia seu estado grave de completa paixonite aguda. A história já durava mais de cinco anos. Arranjavam namorados, histórias rápidas, pequenos e longos romances, mas sempre, sempre, havia qualquer coisa, algum espaço, algum tempo para se verem e darem continuidade a história.

Ele se mudou, foi morar em outro estado. O coração apertava, doía de tanta saudade. Mas a memória é mesmo traiçoeira. A sensação que ela tinha é que aquela situação nunca iria mudar e que nunca teria sido de outra forma. Nunca, nunca. Por isso, volta e meia, se perdia nesse limbo emocional, que ela mesma havia criado.

De repente, nenhum beijo era tão bom quanto o dele. Nenhum papo, nenhum abraço, nenhum sorriso. Nem mesmo um toque, um olhar. Estava completamente desorientada. Sua mente havia arquitetado um labirinto tão perfeito de forma que, qualquer saída que ela tentasse, era como se ainda estivesse no mesmo lugar.

Enquanto ele estava longe, ficava com alguns caras. Às vezes, ao mesmo tempo. Os casos podiam até durar meses, mas em nenhum deles conseguiu se envolver suficientemente. Nem mesmo a ponto de querer se despedir ou de sofrer a separação.

Com sua mania sentimental de racionalizar as emoções, ela percebeu. Ficou desesperada com a ideia de nunca mais se apaixonar por outra pessoa e, pela primeira vez, assumiu sua paixão. "Acho que nunca mais vou me apaixonar. Acho que estou presa nessa história", confessou a uma amiga pouco tempo depois. Nunca, tudo, sempre, nada, todos, ninguém. Continentes inteiros dentro de uma só palavra. Ana era assim: intensa.

Acostumou-se com a situação e, com o tempo, passou a rir de si mesma e dos seus deslizes amorosos. Entrava nos relacionamentos já prevendo o fim e sempre acertava. Para o seu próprio desengano, porém, numa dessas previsões, enganou-se. O início foi comum: ele a viu, se interessou, eles papearam por uns dias e depois ficaram.

O que ela não previu foi o beijo. Ou melhor: errou na previsão. Não era igual ao dele. Nem tampouco eram o cuidado, o carinho, o olhar. Como num estalo, notou a singularidade daquele rapaz e se desarmou de qualquer tentativa de comparação.

De repente, depois de tanto tempo, sair do labirinto se tornou tão fácil quanto entrar.