Quando Chronos me visitou


Revi nossa foto. Aquela velha imagem de nós juntos parece tão nova, agora, olhando assim. Estranho notar a pausa do retrato. É como um talismã, um amuleto que carrega um pequeno pedaço do espírito do tempo. Um pedaço feliz, nesse caso.

Quis chorar, mas só a alma pranteou. Deixei o sorriso estacionado lá, olhando aquela ideia, um reflexo do que passou, calculando quanto tempo demoraria para a saudade começar a arder.

Enquanto o sorriso saudava a recente foto, olhei dentro dos meus próprios olhos. Aquele outro alguém estava tão feliz com você, na época em que você ainda carregava o peso da existência. Nem parecíamos tristes por nossas condições. Só sorríamos.

Foi aí que, por um segundo, Chronos me visitou. Um segundo foi suficiente para que ele me explicasse suas diferentes formas de agir. Falou do tempo cronológico, que passa dia após dia. 5 e 6 e 7 e 8. Falou do tempo como o da foto, das melhores lembranças, do tempo que fica. E falou, ainda, do tempo que é. Do eterno. Além do que se vê. Nessa hora, ele me mostrou você, sorridente. E você me chamou e eu te dei um abraço apertado, choroso, cheio de saudade e amor. Você me disse que estava feliz. E sorrimos de novo, como na foto.

Antes de ir, Chronos me mostrou a foto de um dos seus filhos. E pediu para eu lembrar da metáfora. Fechei os olhos para deixar a lágrima seguir seu rumo e ele foi embora.

Sussurrei como se Chronos falasse por mim: "O tempo que corrói é o mesmo que eterniza". E começou a arder.