Sobre preferir toddy ao tédio


Você pra mim parece um blues ou qualquer coisa assim. Talvez tenha sido o alinhamento dos astros, ou um encontro de almas conhecidas, ou um desígnio do divino, ou só o acaso. Talvez, tenha sido a lua ou meu estômago doído que me fez chegar mais tarde. Só sei que os seus olhos olharam os meus meio que sem permissão e, depois disso, os meus se envergonhavam sempre que se viam diante dos seus. A ironia é que, sim, não poderia ser mais piegas do que é.

Você pra mim parece uma bossa triste ou qualquer coisa assim. Menos pelos seus tímidos olhos tristonhos e mais pela saudade que deixou. E, suponho, mal sabe o que causou. Pode ser que, depois que o ano virou, eu tenha me cansado um pouco da minha própria fugacidade e isso seja só e simplesmente uma crise passageira de consciência. Ou quem sabe um tipo meio bizarro de penitência.

Você pra mim parece uma música do Cazuza. Desde que deixei a cidade, ela não sai da minha cabeça. Nem você. É cômico tudo isso, porque mal sei suas cores favoritas ou os planos futuros. Mas a coisa é que gostaria de saber, saber "as cores e as coisas pra te prender". Crise, penitência ou acaso... Agora já não importa, quando é simples perceber que alguma coisa sua ficou em mim.

Você pra mim parece um assovio qualquer que ouvi pela rua dia desses. Ou o vento que passa pela janela entreaberta. Ou o ruído da panela de pressão que, afoita, corre para deixar o feijão pronto a tempo. E, nessa loucura adolescente, fica difícil dosar as palavras. Ou saem fortes demais ou saem fracas demais. Seria possível encontrar alguma maneira de dizer que, apesar de não ser nada demais, é grande o suficiente pra me tirar do tédio?